Eu quero ser o que escapa do radar, o caractere que o
revisor ortográfico deixa passar na sua fria triagem, quero ser a corda que soa
estridente no acorde e assim dá vida a canção. Quero ser o vento que entra pela
fresta do arranha céu mais bem arquitetado, quero ser o time azarão. Quero ser
o astronauta sem ambições, que apenas esta lá pela vista, quero ir ao cinema
pelo filme, não pela pipoca. Quero ser a gota que escorre do copo, que se nega
a ser ingerida, quero ser a mensagem enviada em garrafa jogada ao mar. Quero
ser o erro possível em milhões de acertos, a praia que ninguém vai. Quero ficar longe de tudo que me lembre o
mundo real, suas perfeições e tendências, suas regras e limites, suas caras e
bocas. Quero ser a dissonância, que foge veloz de qualquer coisa que aprisione
e quando a liberdade tomar ares de mesmice, quero tudo outra vez, tudo
diferente, mais uma vez, pela primeira vez.
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