Peças de um motor.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Ouroboros

Nunca ouvi falar de que alguém tenha tirado uma lição de vida, crescido como pessoa, em alguma situação que não fosse triste, dramática...que causasse sofrimento, angústia e dor. Pensando assim é verdade o dito de que "tudo tem seu lado bom", até as situações indigestas que se apresentam.

Deve ser por isso que países/lugares tropicais com muito sol, calor e lindas paisagens sejam lugares propícios para o "não pensar". Enquanto países/ lugares com um clima fechado e menos aconchegante, onde o tempo mostra na maioria dos dias uma cara zangada e cinza, pareçam mais propícios ao "pensar".

Provavelmente estou errado. Mais uma teoria leviana, mais uma simples farpa em meu cérebro que extraio e mostro...mas nasci e sigo vivendo num lugar que divide seu clima e paisagem entre as duas facetas que citei, e como estamos na época do "pensar", cuspo mais esta idéia que salivava há dias, porque quando o pêndulo pender para o lado do clima festeiro e eufórico da outra metade... esta mente "não pensará"direito e este corpo...suará mostrando toda sua repulsão. Um estranho no ninho.

Ninguém nunca teve um marco importante em sua vida, um divisor de águas, um momento de guinada que ocorresse a partir de uma situação de felicidade. Sempre a bonança vem após o temporal. As histórias se repetem há milênios e sempre acontece algo que muda as pessoas e suas vidas para melhor, mas a curva da mudança, o momento de lucidez se dá a partir de um instante extremamente doloroso e duro.

Após estes temporais paramos, pensamos e vemos com uma clareza antes impensável, clareia e resplande o que devemos fazer, o que deveríamos ter feito há tempos. Epifania. Mudamos para melhor, crescemos como indivíduos.

O problema é que as feridas da hora difícil e esclarecedora, vão secando...vão criando casca, passam a cicatrizar e quase desaparecer, e junto quase some a lucidez despertada. A cicatriz com o tempo quase passa desapercebida, já não lembramos muito bem qual o risco das chamas do fogo da futilidade. Estamos prontos a nos queimar novamente, a lucidez é paciente e experiente, nos abandona aos poucos para não causar muito alarde, até o momento em que novamente a euforia seja surpreendida pela dor.

Ouroboros. Nos alimentamos da nossa dor. A serpente engole o próprio rabo. Ouroboros. Infinito.

Os momentos de extrema felicidade, bem como o clima tropical e festivo, servem apenas para distrair...já o contrário, os momentos difíceis e o clima com cara sisuda...nos fazem parar e pensar. Um velório inspira muito mais a lucidez do que um aniversário de 1 ano....não nos protagonistas, mas nos espectadores envolvidos e embriagados hora por questionamentos úteis, hora por euforia fugaz.