Peças de um motor.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Capitalismo em 4 estações



A cena é contemporânea e corriqueira, um homem engravatado bem barbeado, em seu belo automóvel. Enquanto o semáforo está vermelho, o mesmo faz ligações em seu celular de última geração, o tempo agora relativo, não pode ser perdido, e segue mais que nunca, sendo sinônimo de dinheiro.
Este homem contemporâneo tão diferente daquele homem outrora inserido numa sociedade tradicional e que passou por diversas mudanças até chegar à atual crise de paradigmas. O espírito do capitalismo mudou, e consigo, arrastou na sua rede o que estava a sua volta, logo, homens e suas sociedades mudaram. O efeito dominó então chegou às organizações, formada por indivíduos mutantes e reféns de algo maior.
Max Weber, sociólogo alemão de colaboração impar em diversas outras áreas, trouxe um foco diferente daquele proposto por Marx, este dizia que o espírito do capitalismo era decorrente do animo econômico, e aquele propôs um animo diferente, partindo da âmbito espiritual ,focado na religião, na crença, especificamente na doutrina Protestante. Esta doutrina que surgiu em contraposição a Católica, via a salvação como algo já escrito, ou a pessoa nascia com esta predestinação ou não. Pregava ainda o trabalho remunerado não para fins de consumo de coisas terrenas, mas fazia ode ao acumulo de riquezas, e que este acumulo, poderia ser um indicio de ser digno de salvação, o que segundo Weber, foi o nascimento do “espírito do capitalismo”, no caso se sucederam mais três espíritos a este primordial.
O capitalismo num primeiro momento teria se apropriado de uma doutrina já existente para ganhar força. Como a mudança é algo permanente, e o capitalismo animado por empresas em busca de lucros permanentes, o sistema capitalista vai apresentar um segundo espírito, agora animado pelo Taylorismo.
A busca por eficiência nas organizações tinha seu ponto de partida, a tarefa estudada minuciosamente, e executada disciplinarmente, afim de que os operários trabalhassem melhor, na verdade a tradução real seria que eles trabalhassem a fim de produzir mais para a empresa. A mecanização humana animou o segundo espírito do capitalismo, que ainda viria a apresentar um terceiro, animado pela flexibilidade do Toyotismo, não bastava saber fazer bem sua função, era preciso saber diversas funções, para cairmos novamente na vala comum do discurso de eficiência na produção.
Os “espíritos” anteriores, ética Protestante, Taylorismo e Toyotismo, estão ligados diretamente as sociedades que os correspondem, respectivamente, tradicional, disciplinar e de controle, estas, foco do trabalho foucaultiano. Estas sociedades foram gerando ao longo do tempo, um sentimento de aprisionamento ao ser humano, que se apresentava carente de liberdade. O visionário sistema capitalista, mais uma vez tinha de mudar, e esta carência de liberdade era a escusa perfeita, a bola da vez.
Surge então o Novo espírito do capitalismo, levantando a bandeira da libertação. Mais uma vez trata-se de uma máscara para despistar os fins de sempre, a produtividade e o lucro. Segundo Boltanski, o novo espírito acena com uma liberdade proposital, que na verdade mais aprisiona que liberta, e mesmo quando esta contestação veio à tona, o capitalismo liso e astuto, prometeu liberdade para a sua própria suposta prisão, que mais uma vez, eram novas engenhosas grades invisíveis. A sociedade aqui neste espírito é levada ao autocontrole. A responsabilidade é recebida em forma de autonomia, os funcionários ganham status de empreendedores, há o sentimento de que todos os índios podem ser caciques.
Voltamos ao nosso homem contemporâneo bem vestido, bem sucedido e “livre”, dádiva concebida pelo capitalismo, que do auto de sua bondade, liberta de sua própria prisão, dando a este homem a oportunidade de ganhar o mundo. O custo disto tudo, está descrito de forma quase invisível, como aqueles rodapés de propagandas, onde o asterisco que elucida a verdade repousa ileso dos olhos do homem “livre”.