Peças de um motor.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Os tijolos de Waters e a sociologia de Bourdieu.

   A abertura através do conhecimento e, em especial, o sociológico, nos fornece entendimento para as situações rotineiras nesta vida social que nos cerca (e nos cerca muito bem), um abrir de cortinas que nos permite ver que os atores ali dispostos no palco da vida real e que na escuridão de nossa ignorância , pareciam agir de forma natural, autêntica, reproduzem o que lhes foi passado.
   A luz do conhecimento revela os fios quase imperceptíveis ligados a cada um dos atores e que na verdade, é o que os guia de forma silenciosa, fantasma, tanto para eles, quanto para o observador de olhar inepto.
   Somos produtos produzidos pela repetição, pela necessidade social de fazer com que tudo siga seu rumo, rumo este, que é de interesse de alguém que quer através da reprodução social, manter-se onde está, sem externar que sua vontade está norteando os incautos que andam e pensam andarem por caminhos que escolheram livremente.
   Bourdieu traz a sociologia das instituições de ensino, lugar onde além da educação anunciada ao quatro ventos, se dá a produção de seres reprodutores sociais e culturais, que perpetuarão, a principio sem saber, os padrões sociais com sua cartilha de preconceitos, machismo e desigualdades como se natural fossem, devolvendo assim ao mundo, pessoas com tais padrões introjetados até nos ossos.

   Roger Waters sacou isto, dentre várias outras coisas, suas canções, por vezes verdadeiras discussões relacionais principalmente com seus pais, demonstram que ele enxergou além da severa educação de internatos, descobriu também os tais fios que dão movimento as marionetes, Another Brick in the wall, traz um dos refrões mais conhecidos no mundo, mas assim como sacar o que ocorre ao redor não é tarefa para olhos estreitos, vislumbrar que a canção (aqui pontualmente a parte 2) é um diálogo com a teoria de Bourdieu, parece passar despercebidamente também, a letra traz uma tentativa de abrir os olhos para a repressão escolar e para sua maquinaria de produção de meros reprodutores sociais e culturais... esbravejava Waters ajudado pelo coro das crianças da Islington Green School:
"We don't need no education.
We don't need no thought control".
   Somos todos tijolos na parede, formados, moldados e colocados em determinada posição, refens de habitos e regras, de moral e respeito que nada mais fazem, que imobilizar a ação autêntica, autônoma.

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